Alinhamento de PP e União Brasil em votações na Câmara aumenta pressão sobre Planalto

Alinhamento de PP e União Brasil em votações na Câmara aumenta pressão sobre Planalto

Levantamento mostra convergência de siglas na Câmara, aumentando o poder de barganha em negociações

Porto Velho, RO - Em tratativas avançadas para formar uma federação que se tornará a maior potência do Congresso, União Brasil e PP apresentam um histórico de atuação alinhada nos últimos anos. Levantamento do GLOBO com base em 437 votações realizadas na Câmara na legislatura passada mostra que os dois partidos orientaram suas bancadas de maneira similar 97% das vezes. Em apenas 13 ocasiões houve divergência.

A aliança entre União Brasil e PP reunirá um contingente de 108 deputados, superando o PL, atual maior bancada da Câmara, com 99 parlamentares. No Senado, serão 15 integrantes, um a menos que o PSD, que manterá o posto de legenda com maior representação na Casa. 

Na prática, a junção entre tamanho expressivo e posicionamentos semelhantes aumenta influência nas votações e o poder de barganha com o governo federal — equação que aumenta a pressão sobre o Palácio do Planalto, que ainda se organiza para montar uma base que seja confiável a ponto de aprovar Propostas de Emenda à Constituição (PECs), que necessitam de três quintos de apoio em Câmara e Senado para serem aprovadas.

Ainda assim, mesmo quando ficaram em lados opostos, os posicionamentos ocorreram em questões específicas relacionadas a pautas econômicas, como a extinção de dívidas de empresas de transporte rodoviário, alguns pontos da anistia a estudantes inadimplentes com o Fies e no programa Internet Brasil, além de assuntos de interesse de alguns setores produtivos, como a tributação sobre o nafta e produtos petroquímicos e a incidência do ICMS sobre querosene de aviação. 

Não houve divergência, por exemplo, em relação às reformas, como a da Previdência, aprovada pelo Congresso em 2019.

Apesar do histórico de convergências na orientação das siglas, um dos entraves até agora para que a aliança saia do papel é a preocupação de dirigentes do PP com a falta de unidade do União. A sigla, fruto da fusão entre PSL e DEM sacramentada no ano passado, reúne antigos rivais do PT e, ao mesmo tempo, tem dois filiados no primeiro escalão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva — os ministros Daniela Carneiro (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações). 

Além disso, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) foi o responsável pela indicação de Waldez Góes (PDT) para a pasta da Integração Nacional.

A análise das votações mostra que deputados do União Brasil seguiram a orientação do líder do partido em 87% das votações, enquanto parlamentares do PP foram mais “fiéis”, votando alinhados 92% das vezes.

Até o ano passado, o deputado do União com votação mais parecida com a do PP foi Elmar Nascimento (BA), que no governo de Jair Bolsonaro já tinha influência em órgãos como a Codevasf, poder que deve manter também na gestão de Lula. 

Por outro lado, o mais distante foi Kim Kataguiri (SP), que foi oposição durante boa parte do último governo e é crítico à atual administração do PT.

A falta de unidade tem sido usada pelo PP como argumento para que a federação não seja encabeçada por um nome do União. Integrantes da sigla defendem que o senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, assuma posto. O presidente do União, Luciano Bivar, no entanto, sustenta que, por ter a maior bancada, com 59 deputados, ante 49 do PP, seria natural a liderança do grupo ficar com a sigla.

Termos em negociação

Além do comando da federação, os termos do estatuto também são alvo de discórdia. Em entrevista ao GLOBO, Bivar afirmou que “a federação não seria de oposição a Lula”. Deputados do PP, entretanto, requerem uma independência maior em relação ao governo do que o desejo de inclusão na base petista que Bivar tenta emplacar — na mesma entrevista, o dirigente di União cobrou mais espaço na repartição de cargos do segundo escalão, o que gerou reações no PT.

Novidade nesta legislatura, as federações surgiram como alternativa após o fim das coligações eleitorais. Neste formato, os partidos precisam atuar como se fossem uma única sigla por no mínimo quatro anos.


Fonte: O GLOBO

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