Presidente do Cazaquistão conquista reeleição e consolida poder em eleição sem rivais

Presidente do Cazaquistão conquista reeleição e consolida poder em eleição sem rivais

No poder desde 2019, Kasym-Jomart Tokayev reformou a Constituição e antecipou pleito para aumentar mandato presidencial de cinco para sete anos; com a vitória, governará até 2029

Porto Velho, RO -
Sem oposição real ou surpresas de qualquer tipo, as eleições presidenciais no Cazaquistão endossaram um segundo mandato para o presidente Kasym-Jomart Tokayev, que recebeu mais de 80% do votos no pleito de domingo, consolidando-se como o novo homem forte do maior país da Ásia Central, depois de um início de ano marcado por protestos violentos.

O ex-diplomata de 69 anos, que chegou ao poder em 2019 e foi o segundo a liderar o país desde a independência em 1991, venceu com 81,31% (mais de 6,4 milhões de votos) em uma eleição que registrou índice de 69,44% de participação, segundo os resultados preliminares divulgados pela Comissão Eleitoral.

Os resultados definitivos serão anunciados dentro de uma semana, após a apuração dos votos emitidos no exterior.

Como era esperado, os cinco candidatos de oposição autorizados a entrar na disputa não passaram de figurantes, com 3,42% para o mais votado do grupo. A alternativa "votar contra todos" (equivalente ao voto em branco no Brasil), uma novidade criada para este pleito, foi escolhida por 5,8% dos eleitores.

O presidente cazaque reformou este ano a Constituição para aumentar o mandato presidencial de cinco para sete anos e antecipou as eleições para domingo. Com a vitória, assegura as rédeas da nação até 2029.

Tokáyev garantiu após o encerramento das urnas que as eleições foram “justas e transparemtes” e pediu o apoio incondicional da população de 19,7 milhões de habitantes para transformar em realidade o programa de sua reforma constitucional, aprovada em junho.

— Esta eleição abre uma nova era e as principais instituições de poder serão reformadas — prometeu.

Também insistiu em seu compromisso com as reformas econômicas e a promessa de acabar com o "monopólio do poder" vivido pelo Cazaquistão durante as três décadas do regime de Nursultan Nazarbayev, que renunciou em 2019.

— Estamos avançando em direção a uma nova estrutura política para o país. Mudanças fundamentais ocorrerão na economia e melhoraremos o bem-estar dos cidadãos — acrescentou.

Protestos contra custo de vida

Na campanha, o atual presidente prometeu um "novo Cazaquistão", mais justo e menos corrupto. Mas as dificuldades econômicas persistem, assim como seus reflexos autoritários.

Rica em recursos naturais e localizada no meio de importantes eixos comerciais, a ex-república soviética registrou em janeiro grandes protestos contra o aumento do custo de vida. As manifestações foram brutalmente reprimidas pelo governo com apoio da Rússia — que ativou pela primeira vez em três décadas de existência a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSO), a versão russa da Otan — e deixou ao menos 28 mortos.

A memória deste evento continua viva e as tensões persistem no país. As autoridades anunciaram na quinta-feira a detenção de sete pessoas ligadas a um opositor exilado, acusadas de tentativa de "golpe de Estado".

Histórico controverso

Considerado o braço direito de Nazarbayev, o atual presidente apostou inicialmente na continuidade do governo de seu antecessor, mas rompeu com o mentor depois dos atos violentos do início do ano. Isto não impediu Nazarbayev de parabenizar Tokayev por sua vitória:

"Esta vitória atesta sua alta autoridade como chefe de Estado e é prova indiscutível da fé inabalável do povo em suas reformas e novas iniciativas", disse um comunicado publicado pelo site do ex-presidente, que novamente aludiu aos protestos de janeiro: "E é um reconhecimento da vossa determinação e sabedoria nas horas críticas em que esteve em jogo a independência do nosso Estado."

O Kremlin informou que Tokayev recebeu felicitações do presidente russo, Vladimir Putin, que chamou a vitória de "convincente", em um momento de tensão entre os dois países, depois que o Cazaquistão criticou a invasão da Ucrânia pela Rússia — apesar de não aderir às sanções ocidentais contra Moscou.

A presidência do Cazaquistão também informou que Tokayev recebeu os cumprimentos do presidente chinês Xi Jinping, que afirmou estar pronto para "abrir uma nova etapa de associação estratégica".

Observadores eleitorais da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) afirmaram que as "condições de elegibilidade excessivamente restritivas limitam de maneira injustificável o direito dos cidadãos de concorrer às eleições".

Durante a votação de domingo, correspondentes da AFP observaram eleitores tirando fotos diante das seções eleitorais. Vários explicaram que são "obrigados" pelos patrões. (Com El País e AFP)


Fonte: O GLOBO

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