MPF investiga vídeo divulgado por bolsonaristas em RO após relatos de ataques a indígenas

MPF investiga vídeo divulgado por bolsonaristas em RO após relatos de ataques a indígenas

Conselho Indigenista Missionário (Cimi) diz que vídeo tem o objetivo de persuadir o voto das pessoas utilizando o medo. Indígenas dizem que estão sob muita tensão e risco de vida.

Porto Velho, RO - O Ministério Público Federal (MPF), em Rondônia, informou que vai investigar um caso de possível indução ao voto e intimidação contra povos indígenas em municípios do interior do estado. A denúncia foi feita pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), na última semana.

De acordo com a denúncia, um vídeo com conteúdo falso foi amplamente divulgado por grupos bolsonaristas com o objetivo de persuadir o voto das pessoas utilizando o medo, além de colocar parte dos moradores de pelo menos quatro cidades de Rondônia contra os indígenas. Na região vivem povos das etnias Migueleno, Kujubim e Puruborá.

Ao g1, uma liderança indígena afirmou que a situação é de muita tensão e medo na região. Por este motivo ela prefere não se identificar. Segundo ela, os povos estão sendo intimidados e ameaçados frequentemente após a repercussão do vídeo.

"Eles estão jogando a população contra a gente. Estão colocando a vida da gente em risco, porque o que a gente ouve lá são grandes absurdos. Eles [moradores da região] falam que nós queremos tomar a terra deles. Outros falam assim: 'aquele povo merece morrer'", relatou a liderança indígena.

Conteúdo do vídeo

Entre as informações falsas divulgadas estão que os indígenas "tomarão" as terras dos moradores da região. No vídeo, alvo da denúncia, estão as seguintes frases: "você sabia que a maioria de vocês estão dentro dessa área que é de interesse da Funai [Fundação Nacional do Índio] e que a esquerda promete virar terra indígena?".

Adiante, com uma música amedrontadora de fundo, o vídeo finaliza com a seguinte colocação: "Você vai pagar para ver? O risco é seu, mas também é meu. Pense".

A área citada no falso vídeo corresponde aos municípios de São Miguel do Guaporé (RO), Seringueiras (RO), São Francisco do Guaporé(RO) e Costa Marques (RO). Na região vivem povos de pelo menos três etnias que lutam pela demarcação dos seus territórios há décadas.


Indígenas de Rondônia dizem que estão sob muita tensão e risco de vida. — Foto: Cimi/Reprodução

Denúncia e investigação

Na última semana, o Cimi encaminhou um requerimento de providência para o MPF, argumentando que fica evidente no conteúdo a intenção de colocar a comunidade contra os indígenas.

"Etnias e suas comunidades, ante a violência do manifesto, se encontram amedrontadas, acuadas, com medo de incursões de não índios contra os seus membros e comunidades, temendo por suas vidas", consta na denúncia.

Ainda segundo o Conselho, no início do mês foi realizada uma reunião no Parque de Exposição de São Francisco de Guaporé, com participação de centenas de pessoas, para discutir o mesmo conteúdo apresentado no vídeo.

A Organização dos Povos Indígenas de Rondônia e Noroeste do Mato Grosso (Opiroma) também se manifestou sobre o caso através de uma nota de repúdio ao que eles chamam de "ataques racistas e anti-indígena que incentiva o ódio".

"É lamentável que circule nas redes sociais um vídeo com informações falsas sobre a demarcação dos territórios dos povos Migueleno, Kujubim e Puruborá. Onde têm sido utilizados como propaganda eleitoral para obter votos e enganando o povo na região. A área apresentada no vídeo Fake News não corresponde com a realidade dos territórios que já deveriam ter sido demarcados há muitos anos, cabendo ao Estado Brasileiro a garantia desses direitos originários", consta na nota.

O MPF confirmou que recebeu a denúncia e deve apurar o caso tanto no âmbito eleitoral quanto no setor que cuida das causas indígenas.

Demarcação do território

A liderança entrevistada pelo g1 aponta que há décadas o seu povo luta pela demarcação do território e que, por essa delimitação não ser feita, a sua família vive espalhada por vários municípios de Rondônia.

"Eu não consigo dormir. É uma luta desde o tempo da minha mãe, dos meus avós. Não queremos nada de ninguém, apenas o que é nosso de direito".


Fonte: G1/RO

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