'Eu não preciso ganhar dinheiro com o Botafogo': John Textor explica o porquê

'Eu não preciso ganhar dinheiro com o Botafogo': John Textor explica o porquê

Perfil conta como o sucesso, o fracasso e um abraço moldaram maneira do bilionário de ver a vida. Ele revela que uma grande contratação deve chegar

Porto Velho, RO - John Textor é tão rico que pode ter quase tudo — tanto que há um mês concretizou a compra de um clube de futebol, o Botafogo, que teve 90% de sua SAF vendida ao bilionário americano no começo do ano por R$ 400 milhões. 

É só uma das posses do investidor, um "tecnólogo, futurista e otimista", como gosta de se autodefinir, que fez fortuna com empresas de tecnologia e hoje investe em clubes de futebol — é dono também de fatias do Crystal Palace (ING) e do Molenbeek (BEL). 

Mas a caricatura do bilionário materialista, cercado de suas riquezas e que só pensa em acumular mais não se encaixa na imagem e nem na ideia de um homem de meia idade, que usa roupas simples, muitas vezes amassadas e se deixa fotografar com uma lata de uma cerveja no Maracanã num jogo do alvinegro, clube que ele diz querer reerguer sem necessariamente lucrar.

Nos braços da torcida desde que apareceu como bastião da esperança, Textor diz conhecer também o valor de coisas menos palpáveis, como um simples abraço. Foi por causa de um que o futebol salvou sua vida, e foi por isso, de certa forma, que ele acabou aparecendo para salvar o Botafogo.

— Em 2012, cheguei a um ponto em que eu ainda era muito jovem e eu já era tão rico que estava prestes a comprar o New York Mets, que era meu time de beisebol favorito da infância. E que sonho era ganhar tanto dinheiro a ponto de poder fazer isso, e em Nova York! — contou o investidor ao GLOBO (leia a entrevista completa com detalhes sobre os planos para o Botafogo)em um fim de tarde no quarto de seu hotel na Barra da Tijuca, no Rio.

Textor conta mais sobre a vidas pessoal e profissional. O empresário revela altos e baixos Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Ainda que seguisse sentado, Textor parecia ter se deitado em um divã para contar uma história e tentar explicar longamente sua personalidade ao ser perguntado se se considerava um bilionário excêntrico.

— Mas então a empresa em que eu estava contando para minha riqueza (Digital Domain) teve uma grande briga dentro do grupo de acionistas. Metade se opôs à outra metade e a empresa, muito valiosa, foi levada à falência intencionalmente, para que um grupo pudesse prevalecer sobre outro. E eu perdi tudo. Então, em meses, eu fui de pensar que estava prestes a comprar o New York Mets para realmente não ter condições de comprar uma passagem de avião para ir até Nova York.

Um drama Hollywoodiano

Textor perdeu a casa na Flórida, onde mora, e não tinha dinheiro para pagar a mensalidade dos filhos na escola, que só seguiram matriculados porque ele tinha, na época da bonança, financiado a construção do colégio. Um raro gesto de comiseração que teve na bancarrota. 

A quebra, classificada por Textor como "um grande drama holywoodiano", estava nos noticiários, na TV (ele foi inocentado, mas chegou a ser processado pelo poder público, que pedia U$ 80 milhões) e viu todos os seus "falsos amigos" se afastarem.

Sozinho, frustrado e envergonhado, ele mal saía na rua. Numa das primeiras vezes que criou coragem, foi até o FC Florida, um clube de futebol amador que lhe servia de lazer esportivo.

— Havia uma família que tinha filhos lá, e eles perderam seus empregos quando minha empresa faliu. Quando fui para o campo pela primeira vez depois de todo esse colapso, ele só pararam e me deram um grande abraço. 

Mesmo tendo perdido tudo, que eu tenha sido um grande fracasso, eles não ligaram e só me abraçaram. E eu pude voltar ao campo de futebol. Era o único lugar que eu podia ir naquela época.

Textor se envolveu ainda mais no clube, numa espécie de terapia para sair da fossa. Finalmente voltou a acordar de manhã para poder lavar os uniformes das crianças, treinava a equipe, levava para torneios fora.

— Foi assim que o futebol realmente me salvou. Me deu algo que eu realmente gostei, acreditei e que mesmo quando eu não tinha nada, eu ainda podia ajudar as pessoas — conta Textor, pontuando que não está tentando contar uma história dramática, ou dar uma lição de autoajuda.

Fã de futebol, empresário assiste a partida em seu escritório Foto: Reprodução/Twitter

O ânimo reaceso nos campos da Flórida foi a largada para a retomada. Depois de distribuir currículos sem sucesso — ele confessa que mal sabe fazer isso — Textor chamou alguns dos ex-acionistas da antiga empresa.

— Quando você constrói algo tão valioso, você sempre pode voltar. Então eu disse: "Nós éramos os melhores do mundo nesse ramo da tecnologia, certo? Isso ainda importa. Vamos fazer de novo". Então criei uma nova empresa (Pulse Evolution Corporation) e a riqueza voltou, mas voltou 50 vezes melhor do que antes. 

E todos os meus falsos amigos voltaram. "Ei! Nós sabíamos que você poderia fazer isso. Estou contando com você. Podemos almoçar?". É cômico, acontece hoje e às vezes eu ainda sou sugado para isso porque eu senti falta de algumas dessas pessoas também — conta o americano, detalhando o sentimento da gangorra entre riqueza e fracasso.

— De repente, seu telefone toca e você tem mais obrigações, tem companhia para almoços novamente. E quando você tem dinheiro, todo mundo tem um plano de negócios para te apresentar.

Entre a riqueza de quase comprar o New York Mets e a que comprou o Botafogo, John crê ter ganhado algo mais valioso do que (ainda mais) dinheiro.

— Eu tenho perspectiva agora. Porque eu já perdi tudo. Quando eu digo que realmente não preciso ganhar dinheiro com o Botafogo, o que eu quero dizer é que preciso me divertir muito com as pessoas que amo nas coisas que me interessam. Porque eu conto a riqueza de forma muito diferente da maioria das pessoas na Terra. Eu descobri o que me faz feliz.

Novo diretor

Na árdua missão de acreditar que um empresário multimilionário não quer necessariamente mais dinheiro — ele mesmo admite que é difícil de entender — John ao menos convence que está feliz. Não há dúvidas que ele está curtindo o momento, a idolatria, os abraços, as mensagens nas redes sociais, a recepção calorosa no aeroporto da torcida do Botafogo quando chegou.

— É muito engraçada para mim a notoriedade que vocês me dão aqui no Brasil. É tudo muito sério porque as pessoas realmente se importam com esse clube e isso é incrível. Mas eles me idolatram antes que eu ganhe um único jogo. 

Hoje, eu sei as razões para isso, porque é uma separação em um momento do tempo, da velha maneira de fazer as coisas para um novo futuro. Mas estou me divertindo muito com isso porque as pessoas que querem minha atenção agora não estão tentando ganhar dinheiro comigo. 

No Brasil, eles não vêm dizendo "ei, deixe-me apresentar um plano de negócios", eles apenas querem vir e me dizer o quanto o Botafogo significa para eles. E que eles estão tão felizes porque há esperança.

John Textor se sente em casa no Botafogo Foto: Vitor Silva / Botafogo

Textor não tem problemas em aparecer como a figura deste momento esperançoso. Usa o Twitter, faz piada, dá entrevistas para as maiores TVs e para influenciadores com poucos seguidores sem muita distinção, entra em lives de torcedores de surpresa, desmente notícias e rouba a cena até na apresentação da sua grande contratação até agora para o Botafogo, o técnico português Luís Castro. 

Perguntado se não tem medo de tropeçar no personalismo, se a vaidade pode atrapalhá-lo, ele desconversa, dizendo que é um projeto de várias "celebridades": o técnico, os jogadores que chegaram e os que ainda vão vir e, claro, ele mesmo, que não perde a chance de ser o porta-voz de mais uma notícia - ainda que pela metade — que deve alvoroçar a torcida alvinegra.

— Haverá também uma figura incrível, um homem muito fantástico: um dos maiores diretores executivos da história do futebol mundial vai se juntar ao Botafogo em breve — conta.

John Textor diz que diretor executivo está próximo do Botafogo Foto: Vitor Silva/Botafogo

— Não estou procurando essa atenção, mas eu gosto. Gosto da conexão com torcedores. Eu rio quando as pessoas falam "tudo que ele quer é notoriedade. Ele adora falar, tudo que ele quer é dinheiro". Porque esse era o velho eu, algo muito próximo sobre a pessoa que eu era no ano de 2011. 

Mas não é a pessoa que sou agora. Então eu acho que isso explica: quando você perde tudo, você tem que descobrir o que é importante para você. E de repente, quando você se recupera, percebe que o que tinha perdido era só dinheiro.

Fonte: O GLOBO

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