Zelensky fala em 'neutralidade', enquanto chefe da Inteligência acusa Rússia de querer dividir Ucrânia

Zelensky fala em 'neutralidade', enquanto chefe da Inteligência acusa Rússia de querer dividir Ucrânia

Após fracassar em tomar todo o terrítório, Moscou tenta 'criar a Coreia do Sul e do Norte na Ucrânia', diz Kyrylo Budanov

Porto Velho, RO -  A Ucrânia está disposta a se tornar neutra e comprometer o status da região leste de Donbass como parte de um acordo de paz, disse o presidente Volodymyr Zelensky neste domingo. A declaração veio após um alto funcionário de Kiev alertar que a Rússia pretende dividir o país em dois, numa tentativa de "criar a Coreia do Sul e do Norte na Ucrânia".

— Garantias de segurança e neutralidade, status não nuclear para nosso Estado. Estamos prontos para isso — declarou Zelensky, em russo, durante uma videochamada com a imprensa internacional.

Mais cedo, porém, o chefe da Inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, disse que, como a Rússia fracassou em tomar todo o território ucraniano, o objetivo agora é criar uma região controlada por Moscou.

— De fato, é uma tentativa de criar a Coreia do Sul e do Norte na Ucrânia — disse Budanov em uma declaração citada pela agência Reuters, em que também prometeu uma guerra de guerrilha "total" para evitar a rendição do país.

A declaração foi feita um dia depois de o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltar a pedir que o Ocidente dê tanques, aviões e mísseis para que seu país possa combater as tropas russas. Até agora, o Ocidente forneceu mísseis antiaéreos e antitanques, assim como armas de pequeno porte e equipamento de proteção, mas não blindados ou aviões.

— Já esperamos por 31 dias. Quem está no comando da comunidade Euro-Atlântica? Realmente ainda é Moscou, por causa da intimidação? — indagou Zelensky na televisão, sugerindo que os líderes ocidentais evitavam fornecer armas pesadas por ter receio da Rússia.

Neste domingo, o ministro do Interior da Ucrânia, Vadym Denysenko, disse que a Rússia começou a destruir depósitos de combustível e de alimentos, numa aparente confirmação da declaração do Ministério da Defesa russo de que suas forças atacaram no sábado um depósito de combustível e uma planta de reparo militar perto de Lviv, a 60 km da fronteira da Polônia.

Os ataques nessa cidade, que fica no Oeste da Ucrânia, ocorreu um dia depois de o Ministério da Defesa russo, após sucessivas derrotas no front, afirmar que a meta prioritária é obter a "completa liberação do Donbass", referindo-se à região oriental onde estão as autoproclamadas repúblicas separatistas pró-Moscou de Donetsk e Luhansk, em uma mudança de estratégia para o conflito.

A declaração de que a prioridade é a "liberação" de Donbass indica que Moscou pode ter estipulado metas menos ambiciosas após a inesperada resistência ucraniana no primeiro mês de guerra.

A Rússia invadiu a Ucrânia, no final de fevereiro, alegando se tratar de um ato de defesa em favor dos grupos rebeldes pró-russos do Leste, que há oito anos lutam contra o Exército de Kiev. Antes da ofensiva, o presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência das repúblicas separatistas.

Grande parte desses territórios industrializados, que em sua maioria abrigam a população de língua russa, saíram do controle da Ucrânia durante um conflito em 2014, com registro de 14 mil mortos desde então. No mesmo ano, a Rússia anexou ilegalmente a Península da Crimeia, então território ucraniano, após a derrubada de um líder próximo a Moscou.

A ONU confirmou que 1.119 civis, incluindo 99 crianças e menores, morreram e 1.790 ficaram feridos desde o início da ofensiva deste ano, em 24 de fevereiro. Segundo a ONU, o número de mortes devem ser ainda maiores porque ainda não há informações consolidadas sobre regiões sob ataques intensos.

Líder de região rebelde quer referendo

Mais cedo, o líder da região separatista de Luhansk, Leonid Pasechnik, disse que poderá organizar um referendo para decidir se o território se tornará parte da Rússia, assim como aconteceu com a Crimeia depois da tomada de controle russo, numa votação não reconhecida pela comunidade internacional.

— Acredito que, em um futuro próximo, será organizado um referendo no território da República, em que as pessoas poderão expressar sua opinião sobre se devemos nos unir à Federação Russa — disse Pasechnik. — Por alguma razão, tenho certeza de que este será o caso.

O governo ucraniano, por sua vez, afirmou que uma possível consulta não teria base legal e enfrentaria "uma forte resposta da comunidade internacional", aprofundando o isolamento global de Moscou.

Em nota, o o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, respondeu que "todos os referendos falsos nos territórios temporariamente ocupados são nulos e sem validade legal".

"Em vez disso, a Rússia enfrentará uma resposta ainda mais forte da comunidade internacional, aprofundando ainda mais seu isolamento global", acrescentou.

Paralelamente, David Arakhamia, um dos negociadores ucranianos, afirmou que novas negociações presenciais sobre o conflito vão ocorrer entre as delegações da Ucrânia e da Rússia entre segunda e quarta-feira na Turquia.

Outra rodada de negociações foi realizada no dia 10 de março na cidade turca de Antália, entre os ministros de Relações Exteriores dos dois países, mas sem avanços concretos.


Fonte: O GLOBO

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