Rússia aponta avanços em negociações e diz que Ucrânia apresentou lista de propostas por escrito; saiba quais são

Rússia aponta avanços em negociações e diz que Ucrânia apresentou lista de propostas por escrito; saiba quais são

Kiev ‘pela primeira vez declarou estar disposta’ a aceitar as demandas russas, diz negociador-chefe de Moscou

Porto Velho, RO - Autoridades da da Rússia disseram nesta quarta-feira que houve avanços significativos nas negociações de paz entre o o país e a Ucrânia após o encontro entre as delegações em Istambul na terça-feira. O lado ucraniano, no entanto, manifestou contrariedade com algumas afirmações russas, e se distanciou de algumas das alegações.

Segundo Vladimir Medinsky, assessor de Vladimir Putin que atua como negociador-chefe na negociação, “a Ucrânia pela primeira vez declarou sua disposição a cumprir as demandas fundamentais da Federação Russa”. Se isso se concretizar, ele disse, “a ameaça de criar uma base da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)" no território ucraniano desaparecerá.

— A Ucrânia declarou sua disposição a cumprir as demandas fundamentais nas quais a Rússia insistiu nos últimos anos. Se essas obrigações forem cumpridas, a ameaça de criar uma base da Otan em território ucraniano será eliminada — disse Medinsky na TV Rossiya 24.

Medinsky afirmou que a Ucrânia "pela primeira vez em todos estes anos declarou sua disponibilidade para negociar com a Rússia". Ele acrescentou que a Ucrânia formulou essas propostas por escrito e as apresentou à delegação russa nas negociações em Istambul na terça-feira.

— Eles nos deram os princípios de um possível acordo futuro escrito no papel — afirmou. — Esses princípios incluem: recusar-se a aderir à Otan, fixar o status de não pertencimento a um bloco [neutralidade] da Ucrânia, a renúncia de armas nucleares, bem como a posse, aquisição e desenvolvimento de outros tipos de armas de destruição em massa, a renúncia a hospedar bases militares estrangeiras e contingentes militares e a obrigação de realizar exercícios militares com a participação de Forças Armadas estrangeiras apenas de acordo com os Estados garantidores, incluindo a Rússia.

O assessor de Putin também observou que "a posição de princípio de nosso país em relação à Crimeia e Donbass permanece inalterada".

No caso da Península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, o Kremlin exige o reconhecimento por Kiev da soberania russa sobre o território. Quanto ao Donbass, região no Leste da Ucrânia onde atuam separatistas pró-Moscou desde 2014, a Rússia reconheceu a independência da região logo antes da guerra.

Segundo ele, "o trabalho continua, as negociações continuam". Pela proposta ucraniana, as questões da Crimeia e do Donbass seriam objeto de uma negociação de longo prazo, posterior ao cessar-fogo. As duas regiões, porém, não estariam incluídas nas "garantias de segurança" que a Ucrânia pede a uma série de países, incluindo todos os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Além de Medinsky, o chanceler russo, Sergei Lavrov, também disse que houve um “progresso significativo” nas negociações de paz. Segundo ele, Kiev entende que “as questões da Crimeia e Donbass estão resolvidas para sempre”.

— Considero um progresso significativo que os negociadores ucranianos tenham confirmado a necessidade de garantir um status não nuclear e de não adesão a blocos por parte da Ucrânia, e que sua segurança [deve se dar] fora da estrutura da Aliança do Atlântico Norte, assim como o entendimento dos colegas ucranianos de que as questões da Crimeia e Donbass foram finalmente resolvidas — disse o chanceler russo.

Lavrov não explicou o que é a suposta resolução da Crimeia e do Donbass.

Kiev se distancia

O porta-voz da chancelaria ucraniana, Oleg Nikolenko, negou a afirmação do ministro russo. “Lavrov demonstra incompreensão do processo de negociação”, escreveu o chanceler no Twitter. “As questões da Crimeia e de Donbass serão resolvidas definitivamente depois que a Ucrânia restaurar sua soberania sobre eles. Durante as conversações em Istambul, a delegação ucraniana apresentou as suas propostas sobre como atingir este objetivo”.

Mais cedo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chamou de positivos os sinais da negociação com a Rússia, mas acrescentou que esses sinais não "abafam as explosões" em seu país.

— Você pode chamar de positivo os sinais que ouvimos da plataforma de negociação, mas esses sinais não abafam as explosões de projéteis russos — disse Zelensky em uma mensagem de vídeo na terça-feira.

Segundo o chefe de Estado, a Ucrânia não vê motivos para confiar na Rússia.

— Os ucranianos não são pessoas ingênuas, eles aprenderam durante esses 34 dias de invasão e nos últimos oito anos de guerra em Donbass que você pode confiar apenas em um resultado concreto, em fatos. Claro, a Ucrânia está pronta para negociar e continuará o processo de negociação. Contamos com o resultado. Deve haver segurança real para nós, para o Estado, para a soberania — afirmou.

Também nesta quarta-feira, o negociador-chefe ucraniano, Mykhailo Podolyak, disse que se sente otimista após conversas com a Rússia, nas quais Moscou disse que reduziria as operações militares perto de Kiev e de Chernihiv, uma cidade no Norte da Ucrânia.

— Tenho uma impressão otimista da rodada de negociações em Istambul — disse Podolyak.

Ele disse que o sistema proposto de garantias de segurança para a Ucrânia, que seria oferecido em troca de sua neutralidade, seria submetido a um referendo nacional somente depois que as tropas russas se retirassem para as posições que ocupavam antes da invasão.

— Um referendo totalmente ucraniano, que permitirá aprovar as disposições do Tratado sobre a Segurança da Ucrânia, será realizado somente após a retirada de todas as tropas russas do território da Ucrânia — disse Podolyak. — O referendo não se realizará hoje, porque hoje estamos em lei marcial. Há uma guerra. O procedimento para a realização de referendos na Ucrânia é claro e equilibrado, e só entraremos no procedimento depois que as tropas russas deixarem o território da Ucrânia.

Podolyak também acrescentou que o Tratado de Segurança da Ucrânia será aberto e todos os países interessados poderão aderir.

— O tratado de segurança, para que seja realmente fixado corretamente no direito internacional, terá o seguinte o procedimento: um referendo na Ucrânia, e após isto uma ratificação por parlamentos dos países garantidores e pela Verkhovna Rada — afirmou, em referência ao Parlamento ucraniano.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, foi mais comedido em seus comentários sobre a negociação. A formulação em uma lista oficial pela Ucrânia de suas propostas nas negociações é um fato positivo, mas até agora nada de promissor pode ser afirmado, disse Peskov.

— O positivo é que o lado ucraniano pelo menos começou a formular concretamente e colocar no papel o que propõe — disse Peskov. — Quanto ao resto, até agora, vamos colocar desta forma, não podemos afirmar nada de muito promissor, houve alguns avanços, mas ainda há um trabalho muito, muito longo a ser feito.

O representante do Kremlin não comentou detalhes das negociações anteriores, ignorando notadamente as propostas de Kiev sobre as garantias de segurança de outros países. Também não abordou como resolver a questão da Crimeia e Donbass de maneira não militar.

— Não vamos invadir a Crimeia, ela faz parte da Federação Russa — Peskov respondeu ironicamente. — De acordo com nossa Constituição, não podemos discutir com ninguém o destino dos territórios da Federação Russa, o destino das regiões russas, isso está fora da pergunta.

Comentando o fato de que as negociações em Istambul duraram um dia, não dois, Peskov disse que "as negociações ocorreram, foram concluídas, as delegações foram aos seus centros para coordenar e alinhar ainda mais as posições".


Fonte: O GLOBO

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