Dólar fecha em R$ 4,84, menor nível desde março de 2020, com ajuda de commodities e fluxo; Bolsa sobe

Dólar fecha em R$ 4,84, menor nível desde março de 2020, com ajuda de commodities e fluxo; Bolsa sobe

Entrada de recursos estrangeiros e diferencial de juros favorecem real. No pregão, investidores monitoram falas de presidente do BC

Porto Velho, RO — O dólar comercial seguiu seu movimento de queda, fechando na casa dos R$ 4,84, e a Bolsa subiu nesta quarta-feira. Os ativos locais voltaram a ter um bom desempenho, mesmo em um dia mais negativo para os ativos de risco no exterior.

A moeda americana teve baixa de 1,43%, negociado a R$ 4,8438, após atingir a mínima de R$ 4,8337. É o menor nível de fechamento desde o pregão do dia 13 de março de 2020, quando a divisa terminou cotada a R$ 4,8127.

No ano, a divisa já acumula queda de 13,11% e apresenta seis pregões consecutivos de baixa.

O Ibovespa subiu 0,16%, aos 117.457 pontos. No ano, o principal índice da B3 tem alta de 12,05%.

O estrategista chefe da Davos Investimentos, Mauro Morelli, destaca a continuidade de alta nos preços das commodities como o principal fator para o descolamento dos ativos brasileiros em relação ao exterior.

— Isso tem relação com essa realocação mundial, com os investidores buscando investimento em países, principalmente, produtores de commodities e que se beneficiam desse momento que estamos vivendo.

O sócio e economista-chefe do ModalMais, Felipe Sichel, também avalia que o avanço significativo das principais commodities a nível global, como petróleo e alimentos, vem pesando positivamente para a economia brasileira:

— O índice CRB, que mede as commodities, está se valorizando 7,86% no ano em dólar. Se olharmos dentro de produtos alimentícios, vamos ver uma valorização de quase 13% no ano. Isso acaba tendo impacto tanto na nossa Bolsa, quanto no dólar, pelo perfil exportador do Brasil.

Para Morelli, a volatilidade vista no exterior decorre do ambiente de incerteza gerado pela guerra.

— Temos também um momento delicado da economia americana, com o aumento dos juros e a pressão inflacionária. Vejo uma volatilidade natural do momento internacional que estamos vivendo, que é de inflação alta e juros subindo e um ambiente de guerra entre Rússia e Ucrânia e, de guerra fria, entre Rússia e o Ocidente.

Fluxo deve ajudar no curto prazo

O real vem sendo beneficiado por um conjunto de fatores desde o início do ano, como a forte entrada de fluxo estrangeiro para o nosso mercado, a elevação de preços de commodities importantes, e o diferencial de juros entre a nossa economia e as demais.

Até o pregão do dia 21 de março, o fluxo estrangeiro no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, era positivo em R$ 81 bilhões.

A entrada desse montante ajuda o real, pois se há mais dólares disponíveis no nosso mercado, a oferta aumenta e o preço diminui.

Além da forte presença de empresas ligadas a commodities em nosso mercado, o Brasil vem se apresentando como um destino mais atrativo para o aporte de recursos, na comparação relativa, com mercados emergentes rivais.

— O que a gente está vendo é a continuação de uma tendência importante. O Brasil está com juros real mais atraente que o bloco dos grandes bancos centrais. Tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos, a inflação está rodando a 8%, e os juros reais estão negativos. Eles estão muito atrasados no ciclo — opina Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos.

Sobre o dólar, o estrategista chefe da Davos ainda enxerga espaço para a moeda cair mais no curto prazo. Mas, ele acredita que o fluxo deve diminuir no médio e longo prazo.

— Imagino que quando você tem uma luta contra a inflação, esses preços das commodities mundiais deve, de alguma maneira, se estabilizar.
Petrobras e Vale sobem

Nesta quarta-feira, os papéis de commodities voltaram a ajudar o mercado local.

As ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) subiram 0,97% e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 1,36%, em linha com o avanço do petroleo no exterior.

As ordinárias da PetroRio (PRIO3) avançaram 2,94% e as da 3RPetroleum (RRRP3), 2,95%.

As ordinárias da Vale (VALE3) cederam 0,22% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3) subiram 0,92%

As preferenciais da Usiminas (USIM5) caíram 1,52%.

No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tiveram quedas de 0,44% e 0,64%, respectivamente.

O pregão também abriu espaço para a recuperação de empresas ligadas a economia local.

As ordinárias do Grupo Soma (SOMA3) subiram 7,15% e as das Lojas Renner (LREN3), 5,63%. Os papéis ON da CVC (CVCB3) avançaram 4,52% e os do Magazine Luiza (MGLU3), 3,27%.

Para Morelli, os ativos sofreram um processo natural de correção, já que vêm descontados.

— Mais um movimento de correção e de preço relativo, olhando os movimentos de outras ações e outros setores. 

Não vejo isso como uma reversão de tendência. Não vejo o PIB virando para um cenário mais otimista. As ações que estão atreladas a isso, não me parecem que exista uma demanda muito forte. Mas sempre existe oportunidade em uma ação que caiu demais.

A chefe de análise de trading na Toro, Stefany Oliveira, concorda que o movimento comprador é decorrente de um cenário de corração. Ela diz que ativos do varejo foram muito penalizados este ano tanto pelo aumento dos juros, quanto pela contração econômica.

— Vale lembrar que o setor de varejo tem exposição muito forte ao câmbio. Por causa da importação de produtos, quando há correção de câmbio, esse setor costuma ter uma reversão do movimento de queda, principalmente o varejo para bens duráveis — acrescenta.
De olho nos juros

No pregão, os investidores repercutiram declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

Na ata divulgada ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou a sinalização de que uma nova alta de 1 ponto percentual da taxa básica de juros deve ser realizada.

A expectativa é que o ciclo de aperto esteja próximo do fim, ainda que não se tenha uma taxa final precisa. Hoje, a Selic está em 11,75% ao ano.

Durante participação em evento promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Campos Neto, afirmou que o mundo após a guerra na Ucrânia terá um período relativamente longo de menos crescimento e mais inflação.

Ele ressaltou que o conflito redesenhou as cadeias globais de valor, o que pode criar oportunidades para o Brasil.

Campos Neto avaliou que há um problema de inflação mais grave no mundo, algo que alguns países começaram a reconhecer, ressaltando que o Brasil saiu na frente nesse movimento.

— Países ainda vão precisar subir bastante os juros para atingir juros neutros — afirmou.

O presidente do BC também ressaltou que o pico da inflação acumulada em 12 meses no Brasil deve ocorrer em abril, mantendo previsão próxima à apresentada em fevereiro, quando disse que o pico ocorreria entre abril e maio.

Os mercados ainda monitoram os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Na ausência de perspectivas de uma resolução do conflito, os investidores aguardam o possível anúncio de novas sanções contra os russos por parte dos EUA e de seus aliados na Europa.

Barril de petroleo volta aos US$ 120

Os preços dos contratos futuros do petróleo tiveram alta, diante de preocupações com a oferta da commodity após a interrupção nas exportações de petróleo da Rússia e do Cazaquistão através do oleoduto Caspian Pipeline Consortium.

A Rússia alertou na terça-feira para uma queda nas exportações de petróleo através do oleoduto de até 1 milhão de barris por dia (bpd), ou 1% da produção global de petróleo, por causa danos causados por tempestades.

O possível anúncio de novas sanções à Rússia também ajudou a pressionar os preços da commodity.

O contrato para maio do petróleo tipo Brent subiu 5,3%, negociado a US$ 121,60, o barril.

Já o contrato para o mesmo mês do petróleo tipo WTI avançou 5,2%, cotado a US$ 114,93, o barril.
Bolsas no exterior

As bolsas americanas fecharam com baixas. O índice Dow Jones cedeu 1,29% e o S&P, 1,23%. A Bolsa Nasdaq caiu 1,32%.

Na Europa, as bolsas fecharam com quedas. A Bolsa de Londres caiu 0,22% e a de Frankfurt, 1,31%. Em Paris, ocorreu queda de 1,17%.

As bolsas asiáticas fecharam com altas. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, subiu 3%. Em Hong Kong, houve avanço de 1,21% e, na China, de 0,34%.


Fonte: O GLOBO

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