Dólar fecha abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde junho, e Bolsa sobe, com ajuda de commodities. Entenda

Dólar fecha abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde junho, e Bolsa sobe, com ajuda de commodities. Entenda


Moeda terminou negociada em R$ 4,9440 . Além de avanços do petróleo e minério de ferro, juros altos e entrada de fluxo estrangeiro ajudam real

Porto Velho, RO — O dólar comercial encerrou abaixo dos R$ 5 pela primeira vez desde junho do ano passado enquanto a Bolsa subiu nesta segunda-feira. Os ativos domésticos foram beneficiados pelo dia de alta de commodities importantes para o nosso mercado, como o petróleo e o minério de ferro.

A moeda americana terminou com baixa de 1,43%, negociada a R$4,9440. A última vez que a divisa tinha fechado a barreira dos R$ 5 foi em 30 de junho de 2021, quando terminou cotada a R$ 4,9728.

No ano, o dólar já apresenta queda de 11,32% ante o real.

O Ibovespa subiu 0,73%, aos 116.155 pontos. É o maior patamar de fechamento desde o dia 13 de setembro de 2021, quando o principal índice da B3 terminou no patamar dos 116.404 pontos.

No ano, o Ibovespa tem alta de 10,81%.

No pregão, os investidores seguiram acompanhando os desdobramentos das negociações entre Rússia e Ucrânia com mais tentativas frustradas para encerrar a guerra e repercutiram falas do presidente do Federal Reserve, Banco Central americano, Jerome Powell.

No exterior, as bolsas apresentaram quedas enquanto o petróleo teve forte alta, com receios sobre a oferta da commodity.
Commodities, fluxo e juros

O operador de câmbio da Fair Corretora, Hideaki Iha, destaca a alta das commodities, entre elas o petróleo e o minério de ferro, como um dos principais fatores responsáveis pela queda da divisa no dia.

— Nós somos produtores desses produtos e os juros também têm ajudado. A entrada de fluxo estrangeiro também continua positiva.

Para Iha, a deterioração das expectativas para a inflação e o aumento das previsões de juros contidas no Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central (BC), também influenciaram no movimento do pregão, já que reforçam a pedida por mais juros.

Vale destacar que o real já apresenta um desempenho positivo desde o início do ano. O Brasil vem se aproveitando de uma rotação de carteira dos investidores internacionais.

Eles têm procurado papéis de “valor”, como são conhecidas as empresas com histórico mais consolidado, entre elas as de commodities e bancos, setores com forte peso no índice brasileiro.

A rotação ocorre pela perspectiva de elevação dos juros americanos, que prejudica papéis de "crescimento", como são chamadas as companhias que apostam em teses de crescimento futuro. Essas ações costumam ser as mais afetadas por um ambiente de alta nos juros.

O movimento ajuda a trazer mais dólares para o nosso mercado e, por tabela, contribui na desvalorização da divisa.

Até o pregão do dia 17 de março, o fluxo estrangeiro no segmento secundário da B3, aquele com ações já listadas, estava positivo em R$ 75,231,5 bilhões.

— O Brasil continua atraindo investimentos, principalmente, por causa dessas grandes empresas exportadoras. 

E capturamos grande parte do fluxo que iria para a Rússia. Assim como as empresas, os investidores também procuram sair do país e, com a Rússia sendo excluída de outros índices dos emergentes, os outros países acabam ganhando proporcionalmente — destaca o Head de Renda Variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno.

O nosso patamar de juros elevados também impulsiona o real, com o BC brasileiro iniciando seu processo de normalização monetária muito antes do que seus pares externos.

O diferencial entre as taxas praticadas internamente e no mercado externo está elevado e estimula a prática chamada de carry trade, que consiste em tomar o dinheiro em países onde as taxas são baixas e investir em outros que têm juro maior e que trazem, portanto, mais rentabilidade.

O operador da Fair acredita que nas próximas semanas, o real ainda tende a surfar no campo positivo, especialmente enquanto perdurar a guerra.

Por um lado, se o conflito tende a pressionar a, já elevada, inflação global, do outro, ele coloca o Brasil como um emergente mais atraente, na comparação relativa, frente a seus pares.

Jogam contra a nossa moeda os já conhecidos riscos fiscais e a possibilidade de uma postura mais rígida adotada pelo Fed.

— No curto prazo, enquanto as commodities estiverem nesse patamar e o fluxo entrando, isso favorece o real – disse Iha, destacando que acredita em um dólar acima dos R$ 5 ao término do ano.
Maio aperto a caminho

O presidente do Fed, Jerome Powell, voltou a dizer que o banco pode agir "rapidamente" para controlar a inflação alta, com o aumento de juros maiores do que o esperado, caso se faça necessário.

Em evento da Associação Nacional de Economia Empresarial, ele destacou que pode elevar a taxa básica em mais de 0,25 ponto percentual em uma ou mais reuniões.

— Há uma necessidade óbvia de agir rapidamente para retornar a postura da política monetária a um nível mais neutro e, em seguida, passar para níveis mais restritivos, se isso for necessário para restaurar a estabilidade de preços — disse Powell.

Sobre os efeitos da guerra, Powell ressaltou que os EUA estão mais aptos a resistir a um choque do petróleo agora do que na década de 1970.

Ele também disse que o risco está aumentando "de que um período prolongado de alta inflação possa empurrar as expectativas de longo prazo desconfortavelmente mais altas".

Mesmo assim, o presidente do Fed espera que a inflação caia para "perto de 2%" nos próximos três anos e que, embora um "aterrissagem suave" possa não ser simples, há muitos precedentes históricos.

— A economia é muito forte e está bem posicionada para lidar com uma política monetária mais apertada — disse.

Os comentários de Powell são relevantes, pois podem dar pistas aos investidores sobre o planejamento dos próximos passos a respeito da normalização da política monetária no país.

Na semana passada, o Fed anunciou a primeira elevação nas taxas básicas desde 2018 ao subir os juros em 0,25 ponto percentual.

No front geopolítico, as negociações entre russos e ucranianos não parecem apresentar progressos, o que contribui para a elevação do preço do petróleo no exterior.

Nesta segunda-feira, a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vershchuk, disse que não havia chance de as forças do país se renderem na cidade portuária de Mariupol. 

A Rússia, por sua vez, demonstrou insatisfação com o andamento das negociações.
Boletim Focus: mais inflação

Na cena interna, os agentes de mercado repercutiram as novas estimativas contidas no Boletim Focus.

As projeções para a inflação ao final deste ano subiram pela décima semana consecutiva, passando de 6,45% para 6,59%. O número é superior ao teto da meta do BC, que é de 5%.

Para o término de 2023, as estimativas passaram de 3,70% para 3,75%.

No caso da taxa básica de juros, as estimativas para o final deste ano subiram de 12,75% para 13% e, para o término de 2023, de 8,75% para 9%.

A previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) para o final de 2022 teve alta de 0,49% para 0,50%. No entanto, houve recuo de 1,43% para 1,30% no final de 2023.
Petrobras e Vale sobem

Entre as ações, as ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) subiram 3,35% e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 3,76%, em linha com a alta do petróleo no exterior.

As ordinárias da PetroRio (PRIO3) avançaram 1% e as da 3RPetroleum (RRRP3), 3,70%.

Em dia positivo para o minério de ferro negociado na China, as ordinárias da Vale (VALE3) avançaram 2,83% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), 2,57%.

As preferenciais da Usiminas (USIM5) subiram 0,34%.

No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tiveram altas de 2,47% e 2,37%, respectivamente.
Eletrobras cai, após balanço

Após as divulgação do balanço, os papéis da Eletrobras subiam. A empresa teve lucro líquido de R$ 610 milhões no quarto trimestre, recuo de 52% ante igual período de 2020.

A receita líquida totalizou R$ 11,49 bilhões, alta de 27%. O Ebitda, lucro antes de juros impostos, depreciação e amortização, totalizou R$ 2,40 bilhões, ante resultado negativo de R$ 299 milhões no mesmo período de 2020.

Os papéis ON (ELET3) e PN (ELET6) tiveram quedas de 1,17% e 0,91%, respectivamente.

Em relatório, a Ativa Investimentos avaliou o resultado como negativo. A alta das receitas acabou sendo compensada pela elevação dos custos e gastos operacionais.

“Ainda que esperemos que os resultados operacionais fiquem em segundo plano enquanto a companhia se organiza para executar a sua capitalização, recebemos os números do trimestre de forma negativa”, destaca o analista Ilan Arbetman, em relatório.

A Ativa tem recomendação de compra para as ações ordinárias da Eletrobras, com preço-alvo em R$ 44.


Fonte: O GLOBO

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